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Birra ou sofrimento

A criança em seu longo processo de aquisição de independência e de autonomia, muitas vezes, sente-se insegura e com medo diante dos constantes desafios que lhe são colocados. A cada fase de sua vida há obstáculos a serem superados, por exemplo, precisa andar, falar, dormir e comer sozinha. Diante do novo há também um grande conflito: ela quer crescer, mas tem necessidade de que alguém cuide dela.
As crises de birra podem ser manifestações da ambivalência de seus pais que também querem que ela cresça, mas sentem falta de sua dependência, já que assim se sentem imprescindíveis e importantes. Na presença deste conflito, algumas crianças ficam angustiadas, pois ficam sem saber o que fazer diante da mensagem de seus pais.
Não há uma única saída para as situações de birra. Mas a reflexão é importante. Se os pais acabam dando muita atenção para a criança, isso pode se tornar um ganho, pois assim acaba se sentindo olhada. Se a ignoram , a expressão das necessidades da criança acaba não encontrando espaço. O importante nestas situações, mesmo com o “calor” das emoções, é a escuta naquele momento. Agora, se a criança estiver se excedendo, por exemplo, se jogando no chão, se machucando ou desrespeitando em demasia, os pais podem interditá-la, tomando o cuidado para não humilhá-la, nem agredi-la, pois estas atitudes não a ajudará a resolver esta situação.
A busca por culpados nem sempre é frutífera. A relação dos pais com os filhos, embora em graus diferentes de responsabilidade, envolvem ambas as partes. Afinal, não é toda criança que faz birra, mesmo que os pais cometam seus enganos. As crianças são muito sensíveis na percepção dos conflitos de seus pais e acabam reagindo através de comportamentos chamativos.
Os pais devem prestar atenção nas atitudes que tem com a criança. Na maioria das vezes, posturas incoerentes e contraditórias transmitem uma mensagem dupla. Para a criança não fica claro se ela pode insistir ou não em seus pedidos. Muitos pais diante da teimosia da criança em obter algo, acabam cedendo. Com isso, a criança acredita que com a birra ela conseguirá o que quer. Quando os pais não têm clareza em seus posicionamentos, ficam confusos e inseguros em suas decisões.
Embora as birras pareçam semelhantes. O esforço em diferenciá-las em cada momento específico é bastante válido. Pode ser uma manifestação de raiva, de frustração, de tristeza, de vontade de ter poder ou de controlar, pode ser necessidade de afeto e assim por diante. Se os pais tiverem uma noção mais clara, poderão intervir de um modo mais preciso. De modo geral, o acolhimento das emoções e a interdição dos exageros são necessários.
Pode acontecer, se a birra for excessiva, de outras crianças se afastarem. No processo de construção das relações com outras crianças, aquela que não suporta as frustrações e que não compartilha brinquedos e brincadeiras pode ser afastada pelo grupo. O grupo nem sempre aceita as crianças autoritárias.
Toda imposição quando colocada sem espaço para a expressão e escuta pode ser violenta. O que isso quer dizer? Ser firme não quer dizer necessariamente ser autoritário. O principal é a coerência, a clareza e o suporte aos entimentos expressos pela criança.
Diante do descontrole, pode ser que algo não esteja bem com ela, vale a pena lhe perguntar sobre o que está acontecendo. Mas isso não quer dizer que os pais tenham que aceitar tudo e sim expressar seus próprios limites, sem precisar agredir e retaliar a criança por ter sentimentos que não consegue controlar, pois é imatura e porque os mesmos lhe são inconscientes.

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